quinta-feira, 28 de julho de 2011

Clara

Acorda, Clara!
Olha como o dia já vingou!
Levanta, sacode a pasmaceira,
que a noite comprida te presenteou.
...quantos panos, quantas lidas,
a poeira, a casa, o fogão?
E daí, Clara? É sempre assim,
não tem novidade, não!
Põe de lado as desculpas,
dá um jeito de te ocupar.
Afinal, pra que serve teu pão,
café, arroz e feijão?
Comer, sem converter tudo isso
em trabalho e total servidão?
Nem vale a pena, penar,
se nada limpar, clarear bem o meu chão!
Clara, tu estás com manhas,
fricotes, besteiras, preguiça.
Quem passou a vida inteira,
cozendo, esfregando e ouvindo,
como ousa num repente,
sem motivo nenhum, simplesmente,
achar que é gente e faceira,
cantar como quem está sentindo,
afrouxar a corrente pesada?
Ora, Clara, estás danada!
Bota força nestes teus braços,
engole esta cantilena.
Não te compete estar serena,
lerda ou sonhadora.
Teu canto está entre os panos,
panelas, balde e esfregão.
E o que clareia teu rumo
é o lume que arde à noite,
ao lado do teu colchão.
Vamos Clara e sem tempo,
coloca teus pés no chão.

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