quinta-feira, 28 de julho de 2011

Por um lapso !

Eu mesma em duas. De dentro e de fora.
Sou o que sou, nesta viagem por caminhos cruzados.
Passos juntos e separados.
Com muitos e ninguém, entre as folhas caídas nas estações da vida!
Tantas consciências, que sendo únicas, jamais serão iguais a minha.
E ele estava lá. Só, altivo, com seus trapos e panos encardidos,
no abandono de todos os dias.
Um rei e seus súditos de plástico - uma sacola e outra, e mais outra, dentro umas das outras, bem amarradas, com nós por todos os lados,
guardando seus tesouros de sobrevivência: o resto das sobras de comida da mesa de alguém.
Abriu e cheirou desconfiado.
E se lambuzou e comeu com as mãos feito um bicho.
Lambeu cada dedo e sorriu satisfeito !
Limpou-se nos bolsos pelo avesso de sua calça velha,
como se fossem guardanapos de linho !
Do alto de sua dignidade miserável naquele banco de praça,
permitiu-se me olhar com toda a sua indiferença.
Naquele momento não passei de uma inutilidade qualquer, daquela rotina.
Nada mais que um amontoado equivocado de carne, sangue e ossos,
sem valor nenhum em seu reinado.

Quem sabe, por um lapso de tempo, uma inutilidade útil.
Por um lapso de tempo e nem um segundo mais.

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